• El silencio es de mármol. El silencio es la respuesta de todas las preguntas.

  • ¿Existe alguna tierra donde los latidos son los creadores del propio corazón?

  • Será que el infinito es mucho más pequeño si se mira de cerca.

  • Es una tarde roja, amarilla, celeste y esto es cualquier lugar.

  • Que no crezca jamás en mis entrañas esa calma aparente llamada escepticismo.

  • Doy por cierta la sed de infinitud que me espolea.

Às ordens do vento

Teria gostado de ser discípula de Ícaro.

Como seria lindo ter festejado as bodas de Calisto e Melibea.

Teria gostado de ser
um hitita diante da Rainha Nefertari
o jovem Werther no Rio de Janeiro
a deslumbrante dama sevilhana
por quem Don José repudiou Carmen.

Quisera ter sido o horto do poeta
com a sua verde árvore e o seu poço branco
o inspector fiscal
com quem Maiakovski conversava

Teria gostado de te amar. Juro-te.

Só que muitas vezes a vontade não basta.

Hit the road, Jack

A auto-estrada é o tempo que o princípio demora
a converter-se em termo.

Durante, no dia em que me quiseres.

Não se pisam jamais as mesmas pegadas
- Heraclito disse algo parecido –
que porém conduzem ao lugar onde estamos.

Nunca tenhas medo ao horizonte
não há prazer mais saboroso que o trajecto.

Aceita o pão servido em qualquer parte
usufrui do asilo que te oferecerem
mas tem as malas preparadas.

Aprende para teu bem a arte de te pores a andar

Sempre um segundo antes de te despejarem.

O criador do criador

Quem se lembrou deste deus impassível

Fabricado com mitos e proibições?

Como é possível este deus a prestações
que assobia para o lado?

Inapreciável quando mais faz falta.

A ignorância total da empatia.

Um deus feito à noite.

Mais que um deus, uma jaula.

Tivéssemos podido, digo eu
tê-lo concebido como uma imensa fonte.

Um deus voluptuoso, favorável à sesta.

Um semelhante. Um deus
sem fins lucrativos.

A liberdade criativa deve ter sido sempre uma enteléquia.

In nomine libertatis

Se for verdade que o rancor
desgasta e envelhece lentamente
com o seu rumor calado de pedra de moinho
aposto em ser jovem agora e sempre.

A minha casa está vazia
de bodes expiatórios e culpados.

Acumulo apenas
o valor necessário para continuar a viver
sob a protecção da alegria.

Nunca me inclinei para o fácil fôlego
de adquirir e obrigar. Mesmo a miudeza
desperta sempre em mim um mecanismo frágil
com mais de uma resposta.

Em minha alcova não reinam
proibições nem leis. A minha palavra
é um pátio sem chave
onde é bem recebido quem aprecie
a sombra de uma figueira e um copo de bom vinho.

Não frequento presos nem juízes.

Deixo sentenças e ditames
àqueles que não duvidam. Eu só tenho a certeza
que amo a liberdade e as suas margens.

Quando não aparecer, procurem-me entre as asas
de um pássaro que escapa do inverno.

Com as mãos vazias caminha-se melhor.

Não me pesam os empréstimos. Neste nosso mundo
toda a dívida se contrai no jogo.

Belo com alma

Sabias quase todas as coisas
meu querido corpo
frágil lente de fogo.

Quase todas as coisas que aprendi
foram-me antecipadas por ti
com um tremor leve
com uma obsessão inexplicável
com a dinâmica fugidia das nuvens
com um festim de pulsões.

Lástima de certeza inadvertida.

Quanto esforço de análise
quão dura dissecação da existência
para que o algoritmo da razão arroje
no fim, em fim, por fim
um resultado idêntico
ao fruto da pele.

Sabedoria instintiva da usança
código secular da epiderme
aproxima de mim o teu cálix.

Então beijaste-me

No celebrar do corpo, tão feito de presente,
estirando as sua margens e unindo-as ao circulo infinito da seiva,
procuramos em tacteio nossos contornos
para fundir a pele desabitada com o rumor sagrado da vida.

Olhas-me pleno de tudo quanto o prazer forja
espargindo o meu sangue até à origem
assumindo minhas pulsões até ao fundo.

Não existe conjunção mais veraz
nem maior clarão na substância que nos cria.

Esta bendita fusão feita de entranhas,
a artéria permanente da estirpe.

Só quem beijou conhece a imortalidade.